Em 2022, conforme o IBGE, o PIB brasileiro fechou com uma alta acumulada de 2,9%. Porém, de forma geral, os especialistas são pessimistas em relação a 2023, e preveem que, no máximo, teremos um PIB positivo de 1%. O cenário nos remete a agir com muita cautela e a entender um pouco de suas causas e de como se movimentar em um ambiente com poucas ou quase nenhuma oportunidade. Em 2022, o PIB foi impulsionado pelo setor de serviços e pelo consumo das famílias como efeito rebote do fim das restrições impostas pela pandemia. Ou seja, havia uma demanda reprimida. A projeção para esse ano envolve desaceleração da economia mundial, alto endividamento das famílias e manutenção da taxa de juros em patamar elevado, todos esses fatores devem resultar na diminuição do consumo de bens.
Sobre os juros altos
Juros mais altos desestimulam a economia pelo lado da demanda e aliviam a inflação. Como tomar crédito fica mais caro para CPFs e CNPJs, a pessoa física/família gasta menos em seus hábitos de consumo e as empresas diminuem os investimentos. Diante do aumento do custo do capital, há uma redução da demanda por mão de obra e do dinheiro em circulação. Os juros elevados também contribuem para o aumento da inadimplência, o que leva as instituições financeiras a restringirem mais o limite de crédito das famílias. Mesmo com essas ações, a inflação ainda não dá sinais de queda, pois outros fatores têm contribuído para manter a taxa de juros elevada como as incertezas fiscais e o descrédito em uma verdadeira reforma fiscal. Há uma discussão confusa sobre o arcabouço fiscal, existem atritos do Executivo federal com a presidência do Banco Central. Isso tudo acaba elevando as chances de o Banco Central demorar mais para começar uma política de baixa de juros, o que acreditamos que começará somente no final de 2023.
Entendendo a desaceleração global
Conforme prevê o Fundo Monetário Internacional (FMI), em função de uma alta inflação e de juros elevados em todo o mundo, da continuidade da guerra na Ucrânia e de persistir, ainda, algumas ondas de Covid na China, teremos um crescimento econômico este ano menor do que o de 2022. Essa previsão é tanto para países emergentes quanto para os desenvolvidos, ou seja, teremos uma redução na produção, aumento no desemprego e um grande risco de recessão mundial.
Dados de endividamento das famílias
O que já era ruim ficou ainda pior. Se em 2022 o endividamento das famílias brasileiras bateu recorde, 2023 começou ainda pior, para nossa tristeza. Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) e a Confederação Nacional do Comércio (CNC), 79,2% das famílias brasileiras com até três salários mínimos estão endividadas em 2023. Em 2022, esse índice era de 76,5% na mesma faixa salarial. Já entre as famílias com renda acima de 10 salários mínimos, em janeiro passado, o índice de endividamento chegou a 74,4%, enquanto que foi de 71,2% no mesmo mês do ano anterior. Em suma, reforçando, o que já era muito negativo, ficou mais grave ainda.
Apertar os cintos
Este avião gigante chamado Brasil está em pleno voo, mas com muita turbulência projetada ao longo de 2023, provocada por: Juros altos, desaceleração global e endividamento das famílias. Devemos apertar os cintos, aproveitar as oportunidades que aparecem mesmo em ambiente de crise e suportar até passar a irrequietação econômica.
Conforme os dados históricos, sabemos que a economia é feita por ciclos bons e ruins. O segredo do sucesso está em aguentar as fases ruins, ter resiliência e perseverança e saber que, após passar por esse momento, virá um novo ciclo de céu limpo e de prosperidade.